O Hospital dos Servidores do Estado tem um novo diretor: Dr. Fabio Guimarães de Miranda.
Presidente da Comissão de Ética Profissional, o clínico e intensivista atua no HSE há 28 anos e responde ao site Participação Médica, questões sobre suas expectativas à frente do Hospital e sobre seu engajamento ao Movimento Participação Médica.
Participação Médica – Quais são as principais metas da sua gestão?
Dr. Fabio Miranda - Em primeiro lugar, há a necessidade de alinharmos o hospital com a política de saúde pública do Ministério da Saúde, ou seja, de nos integrarmos efetivamente ao SUS. Até hoje, alguns pensam que a nossa autonomia administrativa nos permite atuar de forma totalmente independente dos demais hospitais da rede pública.
Outro ponto de suma importância é a modernização da forma de se administrar a unidade. Nos dias atuais, não se admite um hospital de grande porte sem utilizar ferramentas de controle de estoque de material de consumo e de medicamentos ou sem prescrição médica informatizada, que se comunique diretamente com a farmácia e o almoxarifado, por exemplo.
Os contratos com empresas prestadoras de serviços precisam de maior fiscalização para que a infraestrutura da unidade proporcione as condições necessárias aos médicos e enfermeiros praticarem a medicina mais atual e humanizada. Um exemplo importante é a manutenção da limpeza rigorosa dos ambientes.
Na outra ponta, a mais importante, para que o atendimento aos pacientes seja realizado com a dignidade merecida, é necessário o treinamento intensivo e contínuo de toda a equipe profissional, objetivando o bem estar físico e emocional dos nossos principais clientes, os pacientes.
Outra meta é a maior integração entre os diversos Serviços do Hospital que precisam funcionar de uma maneira mais integrada, conversando entre si e atuando em conjunto para tentarem resolver seus problemas e os dos pacientes com mais facilidade e presteza. Para isso, a Direção promoverá reuniões com Serviços isolados e/ou agrupados, para pactuarmos metas a serem atingidas em prazos pré-determinados.
Participação Médica – O sr. está a frente do Centro de Tratamento Intensivo do HSE há cinco anos, comandando uma equipe de 28 médicos. O que, de aprendizado destes cinco anos será aplicado nesta nova gestão?
Dr. Fabio Miranda - Antes de liderar o nosso CTI, do qual faço parte há exatos 28 anos, tive a oportunidade de organizar, ampliar e comandar outro CTI na rede privada por dez anos. São, portanto, quinze anos coordenando unidades de terapia intensiva.
O CTI tem aspectos semelhantes ao de um hospital. Este é um dos motivos de alguns dos melhores gestores hospitalares serem provenientes de unidades intensivas. Temos que aprender a lidar com índices administrativos e assistenciais, aprender a nos relacionarmos com os setores de apoio e administrativos do hospital, e, sobretudo, somos especializados em administrar crises, pois podemos entender o paciente grave como um sistema em crise, ocorrendo complicações constantes e, por vezes, verdadeiras catástrofes inesperadas.
Sem dúvida, aprender a liderar pessoas com os mais diferentes tipos de personalidades é a tarefa mais desafiadora de um gestor da área médica.
A terapia intensiva é uma área médica onde se tenta implantar protocolos de conduta diagnóstica e terapêutica, sempre baseados em metas, tentando-se monitorizar todos os eventos para que as correções do curso possam ser efetuadas antes que estragos maiores ocorram. Mas, assim como na ciência médica, na área administrativa há que se entender que os protocolos existem para auxiliar nas decisões, nunca para substituírem a capacidade de decisão, principalmente se ela está sendo realizada por pessoas capacitadas, experientes e bem intencionadas, com a atenção voltada para o benefício do paciente.
Participação Médica – Quais as dificuldades em assumir um papel de gestor?
Dr. Fabio Miranda - A principal, para mim, é compatibilizar com a minha atividade médica, com o tempo que dedico aos meus pacientes.
Acho que já tenho experiência em lidar com os pacientes, seus familiares, e com os outros profissionais da saúde. Resta saber se terei êxito com os demais personagens do cenário, como as empresas prestadoras de serviços, os fornecedores de materiais e medicamentos e os gestores maiores do setor público.
Participação Médica – O sr. etá há 28 anos no HSE, por que só agora assumir o cargo de Diretor?
Dr. Fabio Miranda - Sempre me preocupei com as questões relacionadas à saúde de uma forma geral. Sofri influência de meu pai, um médico que sempre batalhou pela melhoria da saúde pública, com um perfil bastante politizado e crítico às políticas de saúde menos abrangentes.
Algumas vezes escrevi artigos, alguns publicados na imprensa leiga, manifestando minha preocupação com aspectos éticos e administrativos da medicina.
Acho que eu não tinha o direito de me eximir deste grande desafio quando o convite surgiu.
Participação Médica – Apesar de serem taxados como maus serviços de forma generalizada, existem serviços públicos que conseguiram, de alguma forma, se destacar. Na sua opinião, porque alguns hospitais públicos são ditos como ruins e como mudar esse perfil?
Dr. Fabio Miranda - Recentemente, uma pesquisa divulgada na mídia revelou que a imensa maioria das pessoas estava muito satisfeita com o serviço oferecido pela rede pública. Resta saber o grau de esclarecimento destas pessoas sobre o tipo de atendimento a que têm direito, pois não podem haver graus distintos de atendimento médico, ou seja, o tratamento do rico deve ter o mesmo grau de sofisticação científica e humanização daquele disponibilizado aos mais carentes. Acho admissível a diferenciação no requinte do supérfluo, como o acabamento das instalações prediais, por exemplo, mas nunca a inexistência de exames e procedimentos dispendiosos nas unidades públicas.
Um hospital pode ser visto como uma empresa prestadora de serviços e o principal capital de empresas deste tipo é o capital humano. Assim, para um hospital ser classificado como bom, ele deve obrigatoriamente contar com um quadro de profissionais de bom nível técnico e que trabalhe com motivação.
Em geral, os médicos, enfermeiros e demais profissionais dos hospitais públicos são capacitados tecnicamente, pois existe uma seleção composta por concurso público e análise curricular. Entretanto, se a estrutura hospitalar não oferecer as condições básicas para que estes profissionais exerçam o seu trabalho com dignidade ou se não houver o reconhecimento de seu trabalho, incluindo uma remuneração justa, alguns profissionais passam a exercer sua profissão de forma menos dedicada, destinando ao hospital, inevitavelmente, a má avaliação por parte do usuário.
Resumindo, não basta oferecer melhores salários. Há que se proporcionar boas condições de trabalho, e isso significa oferecer uma gestão correta, eficiente e justa à unidade hospitalar.
Participação Médica – Como Presidente da Comissão de Ética Profissional da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, como pretende trabalhar a questão da ética no HSE?
Dr. Fabio Miranda - Qualquer atividade humana deve ser baseada na ética, principalmente naquela em que se lida com o ser humano no momento de sua maior fragilidade emocional.
Isso inclui não só o relacionamento com os pacientes, mas também a relação honesta com os recursos financeiros, que são unicamente destinados aos pacientes.
Participação Médica – Porque o sr. se engajou ao Movimento Participação Médica?
Dr. Fabio Miranda - Porque lá encontrei colegas que pensam de forma semelhante, que se mostram indignados com a forma injusta e, muitas vezes, cruel e criminosa com que a medicina é tratada.
Porque acredito na possibilidade de mudanças radicais no mundo, desde que imaginadas e desejadas.
Nas reuniões da Participação Médica, existe eco para os aforismos hipocráticos. Os participantes discutem formas de atuação para resgatar a dignidade no exercício da mais nobre das profissões.
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