quarta-feira, 18 de maio de 2011

Motivos da bondade do governo com os planos

Doações de planos de saúde a campanhas eleitorais cresceram 760% em relação a 2002
Em 2010, empresas deram cerca de R$ 12 milhões para 157 candidatos, aponta pesquisa

Do R7.Texto: ..
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...De acordo com levantamento realizado pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o financiamento de empresas de plano de saúde para as campanhas de candidatos vêm crescendo a cada eleição. De 2006 a 2010, as doações oficiais, registradas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), cresceram 39,5%. Em relação a 2002, o aumento foi de 760,8% e o número de empresas doadoras saltou de 15 para 49. As informações são da Agência USP.

Nas eleições de 2010, as empresas de planos de saúde destinaram cerca de R$ 12 milhões para as campanhas de 157 candidatos a cargos eletivos, 75 deles eleitos. Segundo o estudo, em 2009, o setor de saúde suplementar teve um faturamento de R$ 64,2 bilhões.

A pesquisa analisou 1.061 empresas de planos de saúde em atividade no Brasil, registradas na ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) em 2010, e as doações oficialmente registradas nas prestações de contas de candidatos e partidos.

Interesses

Segundo Mário Scheffer, pesquisador responsável pelo levantamento, “esse aumento do montante de doações oficiais reflete um possível interesse em se ter uma bancada no Legislativo e cargos no Executivo”.

- Com uma bancada no Legislativo é possível impedir uma legislação que desfavoreça os planos de saúde, como o aumento da cobertura para pacientes, o limite no reajuste dos preços das mensalidades e exigências mais rígidas em relação ao atendimento.

Em relação às doações para campanhas para o Executivo, o pesquisador lembra que cargos estratégicos podem ser concedidos a representantes dessas empresas e mudanças em legislações estaduais podem favorecem a atuação do setor.

Um exemplo é a recente lei do Estado de São Paulo, que reserva até 25% de seus leitos para as empresas de planos de saúde em hospitais públicos do SUS (Sistema Único de Saúde).

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...O pesquisador afirma que “ainda que legítimo, este lobby não é transparente e exclui interesses públicos”.

- Por isso é importante monitorar as doações e os mandatos dos eleitos para que não prevaleçam interesses particulares no setor da saúde.

Em 2010, os planos de saúde contribuíram com as campanhas presidenciais. Ao todo, 38 deputados federais, 26 deputados estaduais, cinco senadores e cinco governadores contaram com os recursos para se elegerem.

http://noticias.r7.com/brasil/noticias/doacoes-de-planos-de-saude-cresceram-760-em-relacao-a-2002-20110317.html

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Ministério proíbe médicos de usarem CBHPM para negociar com planos de saúde

O Ministério da Justiça, a partir de hoje (9), determinou que os médicos estão impossibilitados de usar a CBHPM, que define valores mínimos para cobrança de procedimentos e consultas. Atualmente adotada para a negociação com planos de saúde. A Secretaria de Direito Econômico do ministério, diz que ela fere o princípio da ampla concorrência e tem comprometido o direito do consumidor que contrata o plano de saúde.

A medida preventiva foi motivada por movimentos recentes de paralisações nacionais e descredenciamentos em massa organizados por entidades médicas para forçar o reajuste dos valores pagos aos médicos pelos planos. A Associação Médica Brasileira (AMB), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Federação Nacional dos Médicos (Fenam) foram notificados e têm até cinco dias úteis para recorrer.

“Nessa configuração do mercado que se percebeu nos últimos anos, e essa intensificação da ação no ultimo mês, percebe-se que o principal lesado nessa história toda é o consumidor”, afirmou o secretário de Direito Econômico Vinícius de Carvalho.

Segundo o secretário, o Cade já recomendou 60 condenações a entidades médicas por uso de tabelas mínimas de preços.

Outra prática proibida pelo ministério a partir de hoje é a cobrança adicional do médico ao paciente atendido por meio de convênio. O procedimento estava sendo adotado por profissionais de pelo menos três estados (Distrito Federal, Espírito Santo e Pernambuco) com autorização dos conselhos regionais de medicina.

A Secretaria de Direito Econômico também instaurou processo para averiguar denúncias contra os planos Amil, Assefaz e Golden Cross por violação aos direitos do consumidor. Segundo Carvalho, há informação de que a rede credenciada dessas operadoras teria sido reduzida e seus conveniados estariam pagando aos médicos valores suplementares pela consulta. Os planos de saúde terão que prestar informações ao ministério.

“Quando um consumidor contrata um plano, ele contrata um pacote de médicos, hospitais e laboratórios. Se, de repente, um plano tinha dez obstetras credenciados e de uma hora para outra sobram um ou dois, a gente vê um potencial claro de lesão ao direito do consumidor brasileiro”, afirma ainda o secretário, ele reconhece que a qualidade do serviço médico prestado pode vir a cair em função das medidas.

“Não é isso que nós queremos. Mas o outro extremo também não podemos deixar, que é de estabelecer um preço nacional de uma consulta médica que todos os planos de saúde tenham que pagar. Isso também pode ter efeito nos valores cobrados pelos planos de saúde ao consumidor”.


Para os que não leram, por favor se informem urgente, aonde vamos parar?!?!?

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Entrevista com Dr. Fabio Guimarães de Miranda

O Hospital dos Servidores do Estado tem um novo diretor: Dr. Fabio Guimarães de Miranda.
Presidente da Comissão de Ética Profissional, o clínico e intensivista atua no HSE há 28 anos e responde ao site Participação Médica, questões sobre suas expectativas à frente do Hospital e sobre seu engajamento ao Movimento Participação Médica.
Participação Médica – Quais são as principais metas da sua gestão?
Dr. Fabio Miranda - Em primeiro lugar, há a necessidade de alinharmos o hospital com a política de saúde pública do Ministério da Saúde, ou seja, de nos integrarmos efetivamente ao SUS. Até hoje, alguns pensam que a nossa autonomia administrativa nos permite atuar de forma totalmente independente dos demais hospitais da rede pública.
Outro ponto de suma importância é a modernização da forma de se administrar a unidade. Nos dias atuais, não se admite um hospital de grande porte sem utilizar ferramentas de controle de estoque de material de consumo e de medicamentos ou sem prescrição médica informatizada, que se comunique diretamente com a farmácia e o almoxarifado, por exemplo.
Os contratos com empresas prestadoras de serviços precisam de maior fiscalização para que a infraestrutura da unidade proporcione as condições necessárias aos médicos e enfermeiros praticarem a medicina mais atual e humanizada. Um exemplo importante é a manutenção da limpeza rigorosa dos ambientes.
Na outra ponta, a mais importante, para que o atendimento aos pacientes seja realizado com a dignidade merecida, é necessário o treinamento intensivo e contínuo de toda a equipe profissional, objetivando o bem estar físico e emocional dos nossos principais clientes, os pacientes.
Outra meta é a maior integração entre os diversos Serviços do Hospital que precisam funcionar de uma maneira mais integrada, conversando entre si e atuando em conjunto para tentarem resolver seus problemas e os dos pacientes com mais facilidade e presteza. Para isso, a Direção promoverá reuniões com Serviços isolados e/ou agrupados, para pactuarmos metas a serem atingidas em prazos pré-determinados.
Participação Médica – O sr. está a frente do Centro de Tratamento Intensivo do HSE há cinco anos, comandando uma equipe de 28 médicos. O que, de aprendizado destes cinco anos será aplicado nesta nova gestão?
Dr. Fabio Miranda - Antes de liderar o nosso CTI, do qual faço parte há exatos 28 anos, tive a oportunidade de organizar, ampliar e comandar outro CTI na rede privada por dez anos. São, portanto, quinze anos coordenando unidades de terapia intensiva.
O CTI tem aspectos semelhantes ao de um hospital. Este é um dos motivos de alguns dos melhores gestores hospitalares serem provenientes de unidades intensivas. Temos que aprender a lidar com índices administrativos e assistenciais, aprender a nos relacionarmos com os setores de apoio e administrativos do hospital, e, sobretudo, somos especializados em administrar crises, pois podemos entender o paciente grave como um sistema em crise, ocorrendo complicações constantes e, por vezes, verdadeiras catástrofes inesperadas.
Sem dúvida, aprender a liderar pessoas com os mais diferentes tipos de personalidades é a tarefa mais desafiadora de um gestor da área médica.
A terapia intensiva é uma área médica onde se tenta implantar protocolos de conduta diagnóstica e terapêutica, sempre baseados em metas, tentando-se monitorizar todos os eventos para que as correções do curso possam ser efetuadas antes que estragos maiores ocorram. Mas, assim como na ciência médica, na área administrativa há que se entender que os protocolos existem para auxiliar nas decisões, nunca para substituírem a capacidade de decisão, principalmente se ela está sendo realizada por pessoas capacitadas, experientes e bem intencionadas, com a atenção voltada para o benefício do paciente.
Participação Médica – Quais as dificuldades em assumir um papel de gestor?
Dr. Fabio Miranda - A principal, para mim, é compatibilizar com a minha atividade médica, com o tempo que dedico aos meus pacientes.
Acho que já tenho experiência em lidar com os pacientes, seus familiares, e com os outros profissionais da saúde. Resta saber se terei êxito com os demais personagens do cenário, como as empresas prestadoras de serviços, os fornecedores de materiais e medicamentos e os gestores maiores do setor público.
Participação Médica – O sr. etá há 28 anos no HSE, por que só agora assumir o cargo de Diretor?
Dr. Fabio Miranda - Sempre me preocupei com as questões relacionadas à saúde de uma forma geral. Sofri influência de meu pai, um médico que sempre batalhou pela melhoria da saúde pública, com um perfil bastante politizado e crítico às políticas de saúde menos abrangentes.
Algumas vezes escrevi artigos, alguns publicados na imprensa leiga, manifestando minha preocupação com aspectos éticos e administrativos da medicina.
Acho que eu não tinha o direito de me eximir deste grande desafio quando o convite surgiu.
Participação Médica – Apesar de serem taxados como maus serviços de forma generalizada, existem serviços públicos que conseguiram, de alguma forma, se destacar. Na sua opinião, porque alguns hospitais públicos são ditos como ruins e como mudar esse perfil?
Dr. Fabio Miranda - Recentemente, uma pesquisa divulgada na mídia revelou que a imensa maioria das pessoas estava muito satisfeita com o serviço oferecido pela rede pública. Resta saber o grau de esclarecimento destas pessoas sobre o tipo de atendimento a que têm direito, pois não podem haver graus distintos de atendimento médico, ou seja, o tratamento do rico deve ter o mesmo grau de sofisticação científica e humanização daquele disponibilizado aos mais carentes. Acho admissível a diferenciação no requinte do supérfluo, como o acabamento das instalações prediais, por exemplo, mas nunca a inexistência de exames e procedimentos dispendiosos nas unidades públicas.
Um hospital pode ser visto como uma empresa prestadora de serviços e o principal capital de empresas deste tipo é o capital humano. Assim, para um hospital ser classificado como bom, ele deve obrigatoriamente contar com um quadro de profissionais de bom nível técnico e que trabalhe com motivação.
Em geral, os médicos, enfermeiros e demais profissionais dos hospitais públicos são capacitados tecnicamente, pois existe uma seleção composta por concurso público e análise curricular. Entretanto, se a estrutura hospitalar não oferecer as condições básicas para que estes profissionais exerçam o seu trabalho com dignidade ou se não houver o reconhecimento de seu trabalho, incluindo uma remuneração justa, alguns profissionais passam a exercer sua profissão de forma menos dedicada, destinando ao hospital, inevitavelmente, a má avaliação por parte do usuário.
Resumindo, não basta oferecer melhores salários. Há que se proporcionar boas condições de trabalho, e isso significa oferecer uma gestão correta, eficiente e justa à unidade hospitalar.
Participação Médica – Como Presidente da Comissão de Ética Profissional da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, como pretende trabalhar a questão da ética no HSE?
Dr. Fabio Miranda - Qualquer atividade humana deve ser baseada na ética, principalmente naquela em que se lida com o ser humano no momento de sua maior fragilidade emocional.
Isso inclui não só o relacionamento com os pacientes, mas também a relação honesta com os recursos financeiros, que são unicamente destinados aos pacientes.
Participação Médica – Porque o sr. se engajou ao Movimento Participação Médica?
Dr. Fabio Miranda - Porque lá encontrei colegas que pensam de forma semelhante, que se mostram indignados com a forma injusta e, muitas vezes, cruel e criminosa com que a medicina é tratada.
Porque acredito na possibilidade de mudanças radicais no mundo, desde que imaginadas e desejadas.
Nas reuniões da Participação Médica, existe eco para os aforismos hipocráticos. Os participantes discutem formas de atuação para resgatar a dignidade no exercício da mais nobre das profissões.